domingo, 21 de agosto de 2011

Um dia frio, Um bom lugar pra ler um livro... Um bom Livro



Florbela Lobo veio ao mundo em Vila Viçosa (Portugal), na madrugada de 7 para 8 de dezembro de 1894. Era filha legitima de Antônia da Conceição Lobo e João Maria Espanca, assim como seu Irmão, Apeles Espanca, nascido e 10 março de 1897. 


A sua vida de trinta e seis anos foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminiliade e panteísmo. 



A poetisa caracteriza-se pela recorrência dos temas do sofrimento, da solidão, do desencanto, aliados a uma imensa ternura e a um desejo de felicidade e plenitude que so poderão ser alcançados no absoluto, no infinito. A veemência passional da sua linguagem, marcadamente pessoal, centrada nas suas próprias frustações e anseios, é de um sensualismo muitas vezes erótico. 

Parte de sua inspiração veio de sua vida tumultuada, inquieta, e sofrimentos íntimos. Seu primeiro poema foi escrito em 1903: "A Vida e a Morte".


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A Vida e a Morte 

O que é a vida e a morte
Aquella infernal enimiga
A vida é o sorriso
E a morte da vida a guarida



A morte tem os desgostos
A vida tem os felises
A cova tem as tristezas
I a vida tem as raizes

A vida e a morte são
O sorriso lisongeiro
E o amor tem o navio
E o navio o marinheiro



Auctora Florbella Espanca

Em 11-11-903

Com 8 annos d'Idade 


Livro de Mágoas (ou Livro das Mágoas) é a primeira obra poética de Florbela Espanca editada. Saiu em Junho de 1919  em Lisboa pela Tipografia Maurício graças a Raul Proença, um intelectual e crítico literário conceituado e influente, que reconheceu o talento da jovem poetisa. 

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O livro, inicialmente nomeado Primeiros Passos, tinha por base onze poesias da coletânea Trocano Olhares. A autora enviou a Raul Proença a amostra da sua criação em Julho de 1916. Corrigiu os poemas conforme as sugestões do crítico e escreveu mais alguns para completar a sua primeira antologia. 

São trinta e dois sonetos dedicados ao pai ("A meu Pai. Ao meu melhor amigo") e ao irmão da poetisa ("À querida Alma irmã da minha. Ao meu irmão"). Florbela centra-se na temática da mágoa, da dor e da saudade, inserindo-se, desde o início da obra, num contexto decadentista. Para assinalar o tom finissecular a antologia abre com uma epígrafe a Eugênio de Castro ("Procuremos somente a beleza…") e a Verlaine ("Isoléns dans l’amour…"). Ao longo da obra observa-se uma tendência para chorar e lamentar-se, manifestada especialmente em sonetos "Vaidade", "Neurastenia", "Castelã" e "Em Busca do Amor". Abordando igualmente a temática do sonho, Florbela define para si um espaço poético único de comunicação entre os tristes e magoados. A poetisa expõe esta intenção logo no primeiro soneto: "Este Livro…". 

ESTE LIVRO ... 

Este livro é de mágoas. Desgraçados 
Que no mundo passais, chorai ao lê-lo! 
Somente a vossa dor de Torturados 
Pode, talvez, senti-lo ... e compreendê-lo. 
Este livro é para vós. Abençoados 
Os que o sentirem , sem ser bom nem belo! 
Bíblia de tristes ... Ó Desventurados, 
Que a vossa imensa dor se acalme ao vê-lo! 
Livro de Mágoas ... Dores ... Ansiedades! 
Livro de Sombras ... Névoas e Saudades! 
Vai pelo mundo ... (Trouxe-o no meu seio ...) 
Irmãos na Dor, os olhos rasos de água, 
Chorai comigo a minha imensa mágoa, 
Lendo o meu livro só de mágoas cheio! ...


EM BUSCA DO AMOR 

O meu Destino disse-me a chorar: 
“Pela estrada da Vida vai andando, 
E, aos que vires passar, interrogando 
Acerca do Amor, que hás-de encontrar.” 
Fui pela estrada a rir e a cantar, 
As contas do meu sonho desfilando ... 
E noite e dia, à chuva e ao luar, 
Fui sempre caminhando e perguntando ... 
Mesmo a um velho eu perguntei: “Velhinho, 
Viste o Amor acaso em teu caminho?” 
E o velho estremeceu ... olhou ... e riu ... 
Agora pela estrada, já cansados, 
Voltam todos pra trás desanimados ... 
E eu paro a murmurar: “Ninguém o viu! ...”

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